Uma análise com 419 fazendas que fazem parte do Educampo demonstrou a relação entre CCS, produtividade e margem líquida da atividade leiteira
Um dos grandes desafios enfrentados pelo produtor de leite é alcançar e manter a qualidade do produto. Neste sentido, a mastite é uma doença que causa grandes perdas econômicas, aumentando custo com tratamento, perda em produtividade, penalizações, descarte de leite, além de descarte involuntário e morte de animais.
Atualmente, as instruções normativas 76 e 77 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) preconizam que a Contagem de Células Somáticas (CCS) não ultrapasse o valor de 500 (x1000 células/ml). Vacas saudáveis, em geral, possuem CCS média abaixo de 100 (x1000 células/ml), sendo que o maior impacto do aumento de CCS é a redução na produtividade por animal. Para entender melhor o impacto da CCS nos resultados econômicos, o Sebrae avaliou os dados de produtividade, CCS e margem líquida de 419 fazendas que fazem parte do programa Educampo.
No gráfico 1, é possível observar o incremento da produção, promovido por vários fatores, dentre eles, a melhoria na qualidade do leite. Esse aumento, associado a custos equilibrados, favoreceu o aumento da margem com a atividade nas fazendas analisadas, como pode ser observado no gráfico 2, em que as fazendas com CCS média abaixo de 500 (x1000 células/ml), obtiveram, R$ 0,19 por litro a mais de margem líquida da atividade, em relação às fazendas com CCS média acima de 500 (x1000 células/ml).
Para reduzir as perdas e controlar a CCS da fazenda, o produtor deve realizar diagnóstico com identificação de mastite clínica ou contagiosa e do agente causador, além de mapear casos novos e casos crônicos para definição de controle e tratamento.
Um diagnóstico preciso, com um programa eficiente de controle de mastites, resulta em leite com qualidade, sustentabilidade e retorno econômico.
Fatores que contribuem para aumento de CCS
Quando um microrganismo adentra na glândula mamária, os mecanismos de defesa da vaca são mobilizados e enviam grande número de células brancas (leucócitos) para o leite, na tentativa de combater a infecção. Se o microrganismo é eliminado, a contagem de células retorna aos níveis normais. Entretanto, se os leucócitos não forem capazes de eliminar o agente causador, a infecção pode tornar-se crônica e, continuamente, essas células de defesa são eliminadas no leite, levando altas contagens de células somáticas, alterando a composição do leite e reduzindo a sua produção e a sua qualidade. A mastite é a maior causa de aumento dessas células.
Além disso, outros fatores podem ter efeito indireto sobre a CCS, como a época do ano, o estágio de lactação e a idade da vaca. São observados aumentos de CCS à medida em que a idade da vaca e o estágio de lactação avançam, em função da maior resposta celular de vacas adultas, aumento da prevalência de infecções e lesões residuais de infecções anteriores. Observa-se grande elevação da CCS após o parto, com os níveis normais retornando somente cerca de 8 a 14 dias depois.
Pode ser observado também aumento da CCS antes da secagem. Entretanto, tanto a idade como o estágio de lactação não alteram a CCS em vacas não-infectadas, uma vez que o aumento da CCS observado no final da lactação está associado à maior probabilidade do animal ter se infectado ao longo da lactação e na medida em que fica mais velho.
Por isso, o entendimento dos fatores que afetam a CCS é fundamental para a correta interpretação dos resultados obtidos. O fator de maior efeito sobre a CCS é o nível de infecção da glândula mamária das vacas do rebanho. Vacas que estão livres de infecção apresentam CCS significativamente menor que as vacas infectadas, ainda que exista grande variação em função dos demais fatores.